Drive Test


Todo bom Projeto de RF, depois de implantado deve ser avaliado. Existem algumas formas de fazer isso, por exemplo através da análise de KPI (Indicadores de Performance) ou mesmo através de ferramentas de predição de sinal e interferência. Um outra maneira bastante comum e eficiente de se avaliar a rede é realizando um Drive Test. Mas, o que é isso?
O nome é intuitivo: realizar um teste dirigindo. O Drive Test é um teste realizado nas redes celulares independente de sua tecnologia (GSM, CDMA, UMTS, LTE, etc...). Significa coletar dados com veículo em circulação. Tem sua variação também intuitiva definida pelo Walk Test, ou seja, coletar dados andando pelas áreas de interesse.
As análises de drive test são fundamentais para o trabalho de qualquer profissional na área de Telecom e TI compreendendo duas fases: execução da coleta e análise dos dados coletados.
Embora através da análise de KPI's seja possível identificar problemas como quedas de chamadas, entre outros, os drive tests permitem uma análise mais profunda em campo. Permitem identificar as áreas de cobertura de cada setor, interferência, avaliação de alterações na rede e diversos outros parâmetros.
Vamos conhecer então um pouco mais sobre essa técnica, e conhecer o que podemos fazer com ela?


O que é Drive Test?

Drive Test, como já mencionamos, é o procedimento de realizar um teste dirigindo. O veículo na verdade não importa, você pode fazer um drive test até numa moto ou bicicleta. O que importa é o hardware e o software utilizado no teste.
Basicamente, para realizarmos um drive test utilizamos:
  • Um Notebook - ou outro hardware semelhante (1)
  • com um Software de Coleta instalado (2),
  • uma Chave de Segurança – Dongle – comum a estes tipos de softwares (3),
  • pelo menos um Telefone Celular (4),
  • um GPS (5),
  • e um Scanner – opcional (6).
Também é comum o uso de adaptadores e/ou hubs que permitam a correta interconexão de todos os equipamentos.

A seguir temos um esquemático das conexões padrão.
O objetivo principal do teste é coletar os dados, mas os mesmos podem ser vistos / analisados em tempo real (Live) durante o teste, permitindo uma visualização da performance da rede em campo. Os dados de todos os equipamentos são agrupados pelo software de coleta e armazenados em um ou mais arquivos de saída (1).


  • GPS: coleta os dados de latitude e longitude de cada ponto/medida, dados de hora, velocidade, etc. Também é útil como guia para a execução das rotas corretas.
  • MS: coleta os dados do móvel, como nível de sinal, melhor servidor, etc...
  • SCANNER: coleta os dados de toda a rede, já que o móvel é um rádio limitado, e não manipula todos os dados necessários para uma análise mais completa.
O mínimo necessário para a realização de um drive test, simplificando, é um móvel, um equipamento com software de coleta e um GPS. Atualmente, já existem aparelhos celulares que fazem tudo isso. Eles têm um GPS interno, bem como um software de coleta específico. São bem práticos, porém ainda são bastante caros.

Rotas de Drive Test

As rotas de Drive Test são o primeiro passo a ser definido, e indicam onde o teste ocorrerá. Essa área é definida baseada em vários fatores, principalmente em relação à finalidade do teste.
As rotas são pré-definidas no escritório.
Um programa de bastante ajuda nessa área é o Google Earth. Uma boa prática é traçar a rota no mesmo, utilizando a facilidade de caminhos ou polígonos. A imagem final então, pode ser levada ao conhecimento do motorista.


Alguns softwares permitem que essa imagem seja carregada como fundo da área de trabalho (geo-referenciada). Assim fica muito mais fácil direcionar as vias a serem seguidas.
É aconselhável verificar as condições de tráfego, traçando-se exatamente as vias por onde o motorista deve passar. É claro que a circulação dos veículos está sempre sujeita a imprevistos, como congestionamentos, vias interditadas, etc. Por esse motivo, deve-se sempre ter à mão – conhecer – rotas alternativas a ser tomadas nessas ocasiões.
Evite passar pelas mesmas vias várias vezes durante um Drive Test (utilize a função Pause se houver necessidade). Uma rota com várias passagens pela mesma via é mais difícil de se interpretar.

Horário do Drive Test

Novamente dependendo da finalidade, o teste pode ser realizado em horários diferentes – dia ou noite.


Um Drive Test realizado durante o dia apresenta as condições reais da rede - principalmente em relação ao aspecto de carregamento da mesma. Por outro lado, um drive test realizado à noite permite que se façam, por exemplo, testes em transmissores, sem afetar grande parte dos usuários.
Tipicamente realiza-se Drive Test noturno em atividades de Projeto do Sistema, por exemplo com integração de novos sites. E os Drive Test diurnos aplicam-se a Análise de Performance e também Manutenção.
Importante: independente do horário, verifique sempre com a área responsável quais sites estão com alarmes ou até fora de serviço. Caso contrário, o seu trabalho pode ser em vão.

Tipos de Chamadas

O Drive Test é realizado de acordo com a necessidade, e os tipos de chamadas em teste são os mesmos que a rede suporta, podendo ser chamadas de voz, dados, vídeo, etc. Tudo vai depender da tecnologia (GSM, CDMA, UMTS, etc...), e da finalidade do teste, como sempre.
Um Drive Test típico utiliza 2 móveis. Um móvel realizando chamadas (CALL) para um número específico de tempos em tempos, configurado no Software de Coleta. E o outro em modo livre ou IDLE, ou seja, ligado, mas não em chamada. Com isso, temos a coleta de dados específicos dos modos CALL e IDLE dos aparelhos na rede.
O teste em chamada (CALL) pode ser de dois tipos: longa ou curta duração.
Chamadas de curta duração devem durar a média de uma ligação dos usuários, um bom valor de referência é 180 segundos. Servem para verificar se as chamadas estão sendo estabelecidas e terminadas com sucesso (sendo uma boa forma de se verificar também o setup time da rede).
Chamadas de longa duração servem para verificar se os handovers (continuidade entre as células) da rede estão funcionando, ou seja, as chamadas não devem cair.

Tipos de Drive Test

Os principais tipos de Drive Test são para:
  • Análise de Performance
  • Integração de novos sites e Alteração parâmetros de Sites Existentes
  • Marketing
  • Benchmarking


Os testes de Análise de Performance são os mais comuns, e realizados geralmente em clusters (agrupamento de células), ou seja, área com alguns sites de interesse. Podem também ser realizados em situações pontuais, como para atender uma reclamação de cliente.
Nos testes de integração de novos sites, é recomendado realizar dois testes: Um com o site sem permissão de handover – não podendo fazer handover para nenhum outro site - obtendo-se assim uma vizualização total da área de cobertura. O outro, posterior, com o handover normalizado, que é a situação final do site.
Dependendo do tipo de alteração do site (se houver alteração da EiRP) ambos os testes também são recomendados. Senão, basta realizar o teste normal.
Os testes de Marketing geralmente são solicitados pela área de marketing da empresa, por exemplo mostrando a cobertura ao longo de uma rodovia, ou uma região/local específico.
Os testes de Benchmarking tem o objetivo de comparar as redes concorrentes. Se o resultado é melhor, pode ser usado como argumento para novas vendas. Se estiver pior, sinaliza os pontos onde a rede deve ser melhorada.

Uma Coleta (quase) Sem Falhas

Quem já fez um drive test sabe disso: Parece que o tal do Murphy fica sentado no banco de trás. Isso porque, uma grande quantidade de problemas – embora evitáveis – sempre acabam ocorrendo.


Para evitar, ou pelo menos minimizar, a ocorrência desses problemas, faça sempre um checklist antes de iniciar o drive test.
É muito frustrante rodar uma rota, e somente no fim perceber que os dados não foram coletados corretamente.
Então, antes de iniciar, verifique todas as conexões, sempre! Principalmente, verifique se todos os equipamentos estão devidamente energizados. Você não vai querer ver um aviso de bateria fraca em uma avenida movimentada, vai?
Quando dizemos verificar, incluímos certificar-se que as conexões estão bem apertadas, e não vão soltar com os movimentos do veículo.
Verifique também se os equipamentos estão bem presos, ou seja, que você não verá um notebook voando caso tenha que dar uma freada brusca.
Quando montar os equipamentos, mantenha uma distância de pelo menos 33 cm entre cada antena, garantindo assim que não tenhamos interferência eletromagnética ou distorção do diagrama de irradiação da antena que possa afetar as medidas.
Certificando-se que todos os equipamentos envolvidos estão firmes e conectados com a fonte de energia, verifique se todos foram identificados pelo software de coleta. Isso deve ser feito pela interface do programa, que mostrará em qual porta cada elemento está devidamente conectado.
Com os equipamentos agora identificados, verifique se o GPS adquiriu os satélites necessários para determinar sua posição. É necessário que você esteja numa área aberta, com visada para os satélites. É aconselhável configurar o software para fazer a coleta em Graus, Minutos e Segundos. Familiarize-se com esse conceito.
Um outro fato que deve ser levado em conta em relação ao GPS é a sua antena. Ela deve ficar num local geralmente no teto do veículo, onde possa enxergar o céu. Se ela não for impermeável, é necessário protegê-la com um plástico, caso chova.
Se estiver tudo OK com o GPS, inicie uma coleta de teste para verificar se todos os dados estão sendo gravados.
Na tela do programa, verifique um indicador que informa isso, se os dados estão sendo gravados. Além disso, observe se os parâmetros da rede estão visíveis nas telas de cada equipamento – móvel, gps, scanner, etc. Alguns softwares oferecem também a facilidade de vizualizar esses dados sem gravar. É muito importante verificar se tudo está OK antes de começar.
E agora, por fim, mas com certeza, mais importante: lembre-se que, em primeiro lugar, você está dirigindo!


É recomendado sempre que possível ter um condutor do veículo e um operador do instrumental. Se isso não for possível, sempre inicie, pare ou faça alterações em uma coleta em um ponto seguro da via.
E é claro: verifique sempre as condições do veículo, e use sempre o cinto de segurança!

Anotações

A maioria dos softwares oferecem a facilidade de incluir anotações (Marker) durante o drive test. Seja através dele, ou utilizando um bloco de notas, faça sempre anotações.


Informações relacionadas ao teste devem ser registradas, para um futuro auxílio nas análises. Por exemplo, como está o tempo (chuva?), se há algum obstáculo muito grande na área, possíveis fontes de ruído, etc...


E o que é coletado?

Tudo bem, mas o que é realmente coletado?
Bom, antes disso, é preciso garantir que os dados consigam ser gravados. Lembre-se que estamos utilizando um Notebook, que indiscutivelmente está sujeito a congelar a tela travar.
E nesse caso, o que fazer? Infelizmente, não há muita coisa além de reinicializar os equipamentos.
Mas algumas práticas podem minimizar também esses erros.
Um tamanho típico de arquivo de Drive Test é de 30 minutos a uma hora. É claro que tudo vai depender do tamanho do arquivo, que por sua vez depende das informações que estão sendo gravadas.
Arquivos muito grandes, além de sofrerem mais risco de serem corrompidos – principalmente em caso de pane do Notebook – são mais difíceis de mover, carregar e até mesmo de se analisar.
Deixe sempre alguns GB livres em seu HD (Hard Drive) antes de iniciar qualquer coleta. E utilize pelo menos a quantidade de memória RAM especificada – requerida - pelo Software de coleta.
Outra coisa importante: não abra ou use outros programas quando estiver coletando dados, somente quando estritamente necessário.
Arquivos de Drive Test são sempre grandes, e você está sempre movendo os mesmos. Por isso, mantenha uma rotina – semanal é o indicado – de realizar uma desfragmentação e busca de erros no HD.
Sempre que você for terminar a coleta, pare as chamadas em curso, e somente em seguida, pare a coleta. Caso contrário, essas chamadas podem ser interpretadas errôneamente como quedas.


Agora, sim. Se os dados foram coletados, podemos falar sobre eles. E para varia, depende dos equipamentos utilizados e a finalidade do Drive Test.
No caso de móveis, são coletadas todas as mensagens trocadas entre os sites e os mesmos, com todas as camadas de informação – mesmo que você não conheça boa parte delas. É porque em casos mais críticos, esses dados podem ser enviados para laboratórios mais preparados para análises bem profundas.
Se for utilizado um scanner, temos ainda as informações de sites que não foram "enxergados" pelos móveis.
É claro que tudo é configurável, mas é sempre bom utilizar a configuração padrão, e gravar tudo o que for possível.
Todas as informações são armazenadas com os seus respectivos dados de Data e Hora, bem como de sua posição geográfica.
Um exemplo típico de saída de dados é mostrado abaixo.


Equipamentos e Softwares de Coleta

Já falamos bastante deles. E quais são os equipamentos e softwares de coleta recomendados?
Bom, essa pergunta não é fácil. Vamos fazer uma analogia: Qual é o carro que você vai comprar no próximo ano?
Já deu pra perceber não? Você terá que verificar qual a sua necessidade, qual a disponibilidade no mercado, e qual o melhor custo benefício. Pode ser que você até continue andando a pé.
E com os equipamentos e softwares de coleta e pós-processamento de Drive Test ocorre o mesmo.
É preciso verificar se o mesmo é compatível com a sua rede, quais são os custos e benefícios diferenciais, e não menos importante, suporte!
Lembre-se que novas ferramentas e funcionalidades estão sempre surgindo. Mantenha-se sempre atualizado sobre esse assunto.
Nota: poderíamos listar aqui alguns equipamentos e softwares, por exemplo os que usamos. Porém preferimos não citar nenhum deles, para não correr o risco de acabar sendo de certa forma desleal.


Mas de qualquer forma, seja qual for o equipamento, softwares e procedimentos utilizados, o resultado final é sempre o mesmo, os relatórios e arquivos de saída.
A grande maioria dos softwares de coleta (ou processamento) faz ou têm em conjunto algum software que faz também a análise. São os chamados softwares de pós-processamento. Cada software de pós-processamento tem suas análises específicas, e como a quantidade de dados (medidas) é enorme, eles podem ser de grande ajuda para a solução de problemas bem específicos. Essas ferramentas apresentam os dados em tabelas, mapas e gráficos comparativos que ajudam na tomada de decisões.
Independente de qual seja o software de pós-processamento, todos têm a funcionalidade de exportar os dados em forma tabular, em formato Texto ou CSV.
Essa pode ser uma opção interessante, principalmente se você tiver ferramentas próprias, desenvolvidas especificamente para suas necessidades.
A seguir, temos exemplos de dados de drive test processados pela ferramentaHunter GE Drive Test, totalmente criada em VBA.


Uma vantagem de se trabalhar com os dados dessa forma é que não importa como foram coletados, e sim o seu conteúdo. Assim podemos por exemplo, mesmo que uma equipe tenha rodado metade da rota com um tipo de software, e outra equipe de drive test rodado o restante com outro, podemos plotar os dados de nossa rede numa só área de trabalho. É aí que entram por exemplo os softwares genéricos de análises geo-referenciadas, como o Mapinfo e o Google Earth.
Outra vantagem é que as análises disponíveis no Mapinfo ou Google Earth tem geralmente uma melhor utilização, já que são mais familiares a maioria dos profissionais, e não específicos de quem apenas realiza/analisa drive test. Isto pode ser entendido em não ser preciso adquirir várias licenças de softwares de pós-processamento, bastando apenas um para as análises mais profundas.

Conclusão

Hoje tivemos uma visão geral sobre Drive Test, uma técnica bastante eficiente de avaliação da rede.
As análises feitas através das informações coletadas em campo representam um retrato fiel das condições da rede, e podem ser usadas na tomada de decisões em diversas áreas, desde o planejamento e projeto até a otimização e manutenção do sistema, sempre com o objetivo de maximizar a Qualidade, Capacidade e Cobertura da Rede.





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